Auroville é um método como qualquer outro de colonização...
A ideia inicial desta residência centrou-se precisamente no tema da Utopia versus Matéria.
Matéria porque o verdadeiro entusiasmo do meu trabalho sempre foi a diversidade de materiais e dos seus comportamentos em diversos suportes, a alquimia e a fisicalidade da obra plástica.
Utopia porque a entidade acolhedora inicial, a cidade de Auroville, tem como sistema organizacional um modelo único, com uma matriz completamente utópica nos seus princípios e objectivos, até na metafísica que supostamente defende, um ideal de unificação humana.
O modelo de residência artística que sigo tem como principal característica a aproximação aos materiais locais dentro de condições de trabalho minimamente exigíveis.
Julguei, com base no conhecimento que tinha, que o ambiente criado num local único como Auroville e o convívio com outros artistas iriam ser factores preponderantes na boa condução da minha residência artística.
A realidade revelou-se outra. A quebra dos pressupostos iniciais, a falta de condições mínimas de trabalho e o ambiente não favorável à criação artística, tal como eu a concebo, levou-me a repensar todo o projecto de residência e reinstalar-me procurando assim diferentes parceiros do que anteriormente previsto, e a refazer em parte o tema mestre deste projecto de residência.
Outra grande razão para o meu abandono de Auroville foi o facto de não existir a coabitação com outros artistas de outras partes do mundo, como estava anteriormente programado. Esses artistas estavam dispersos em várias partes do país, não trabalhando juntos naquela residência ao mesmo tempo.
A partir daqui continuei sozinho na busca de condições mínimas de trabalho, e o trabalho conjunto com outros artistas aconteceu somente com artistas locais e artesãos.
Esta alteração foi transformada numa vantagem e não num problema; as situações adversas e imprevistas tal como a tentativa e o erro na minha própria pintura são integradas e aceites como possibilidades enriquecedoras – também isto faz parte da minha concepção de residência artística.
A imprevisibilidade inerente a este modelo de residência é assim uma das bases em que assenta a minha motivação além, claro, da mobilidade e da interacção que ela proporciona no que toca à absorção de materiais, utensílios e técnicas nativas, caracterizadoras de um povo, seita ou grupo de pessoas.